Quem sou eu

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José Augusto Ribeiro da Fonseca ou José Fonseca nasceu em Juiz de Fora, em 18 de fevereiro de 1978. É formado em filosofia, especialista em filosofia moderna e contemporânea pela Universidade Federal de Juiz de Fora e mestre em educação pela Universidade Católica de Petrópolis. Lecionou em várias instituições de ensino. É professor de filosofia e pai da Mariana. Escreveu Estilhaços e Mariana & outros poemas. Participou dos livros: Bocas: coletânea, de Paulo de Tarso; A palavra conVida, de Anderson Fabiano e Helena Charello; Juiz de Fora ao luar V.2,3 e 4, de Maria Helena Sleutjes e Poesia na pandemia, de Arthur Laizo e texto no livro o olhar a(r)mado, de Guilherme Melich. Publicou no jornal PROPOE: prosa e poesia e nos blogs, Plástico Bolha e Desassuntos.Tem os poemas "aposentadoria" e "boxe" (faixas 3 e 4), musicados no disco Norte, de Carlos Resende e "sinal dos tempos" (faixa 7), do disco abrindo caminhos, de Clarice e Carlos Resende. Declamou poemas no Eco performances poéticas e em batalhas de Slam.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

APOSENTADORIA

 O diabo desempregado

foi para a fila 
dos anjos decaídos
coitado

muito velho
com pouca qualificação
diante da grande concorrência
vivia amassando e comendo o pão

como é uma criatura 
muito estuta
há vários séculos 
cansou de ir à luta.


está com a vida 
que pediu a Deus
mesmo tendo aposentado 
o tridente & a maldade 

continua levando 
a fama 
passa o dia inteiro 
na cama 

lendo & vendo
os jornais da semana
impressionadíssimo
com tamanha eficiência humana

(FONSECA, José. in: SLEUTJES, Maria Helena. Juiz de Fora ao Luar v.2. Gryphon Edições, Juiz de Fora, 2017. p.143 e musicado por Carlos Resende, na faixa 3 do seu cd Norte, Manaus: 2019) 

sábado, 3 de abril de 2021

Boca escarlate


Tua boca escarlate

berra, xinga, quase late, 

quando fica cheia de ciúmes.

Chegando ao cúmulo,

de transformar a minha boca,

num frio túmulo:

pois atônito fico,

diante da sua alma desbocada.

Às vezes,

dou um motivo ou dois...

e o que sempre segue depois:

é você pondo a boca no mundo,

dizendo que homem não presta,

que todo amor é imundo.

Ah! Passo pelos dias 

triste e sozinho,

mas o amor nos leva 

por um caminho,

onde pedindo perdão,

nossas bocas

novamente se encontrarão. 


(FONSECA, José. In: ANDRADE, Paulo de Tarso. Bocas: Templo, Juiz de Fora, 2010)

 

Capa do livro Bocas: uma coletânea, de Paulo de Tarso Andrade. Templo: Juiz de Fora, 2010

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

CABEÇA AO VENTO
Para Guilherme Melich

Ar pesado, emplastado de pensamentos.
Dúvidas fixas, ideias vagas, cabeça em chamas.
No corpo, um incêndio aflito corre pelas veias.
No ouvido, não há rumores de anjos, nem o canto dos pássaros.
No olhar, paralelas se perdem no labirinto do infinito.
No momento limite, a colisão das fronteiras entre sombra e luz.
A vida, enigma da matéria, sempre é mais do que o silêncio da morte.
A cabeça, prestes a ruir, feita de perguntas, se desfaz, não aguenta.
O ar, agora vento, em fúria é tormenta.
Mas na semente da dúvida, cresce a dádiva da busca.
E a busca é a insistência da existência.




sábado, 11 de janeiro de 2014

                                         CONVITE PARA O LAÇAMENTO DO LIVRO
                                          CAPA, CONTRACAPA E ORELHA DO LIVRO

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

DIÁRIO

Danço numa ciranda de fogo
olhos acesos pelo brilho da vida.
Subverto a morte
até o presente momento.
Descubro a beleza das coisas
quando não procuro por nada.
Canto a música barulhenta dos dias
melodia dissonante da existência.
Invento galáxias particulares
no big-bang das ideias.
Ouço o silêncio das pedras
na insônia da madrugada.
Aprendo a educação pela dor
na escola dos erros.
Domestico a tristeza
em tempos de solidão.
Busco a felicidade
na carne feminina do amor.
Escrevo o meu diário secreto em forma de poesia!



(FONSECA, José Augusto Ribeiro da. In: Estilhaços. Juiz de Fora/Rio de Janeiro. FUNALFA/Ibis Libris. 2011. p.25) 





COMPRANDO FIADO

O poema não pode esperar,
o poeta já não pode cantar...

suas noites de clausura,
suas galáxias confinadas,
suas realidades sem espessura.

Dinheiro há de ganhar,
ao menos para se sustentar.

Conseguindo o pão nosso
na existência de cada dia.

Vencendo fila, banco, buzina,
calcula juros, taxas, impostos,
para se esquecer de outros ladrões...
os da esquina!

Tal como o poeta,
o poema também envelhece,
(inacabado nas gavetas do cotidiano).

O poeta reconhece,
pelo disparar da carruagem,
a palavra arredia.

O poema estremece:
está gago,
em pânico,
dissonante
& estressado!

O poeta empobrece:
está endividado,
cortando um dobrado,
chegando ao final do mês,
(escrevendo & comprando fiado).


(FONSECA, josé Augusto Ribeiro da. In: Estilhaços. Juiz de Fora/Rio de Janeiro. FUNALFA/Ibis Libris. 2011 .p.19 e 20)


PRIMEIRA E ÚLTIMA

quero a rara pulsação de vida
o despertar ou calar
de quem faz tudo
pela primeira ou última vez

o primeiro choro
o último suspiro
o primeiro amor
a última ilusão
a primeira palavra dita
a voz do silêncio
o primeiro passo
o salto suicida
o primeiro perdão
a última ingratidão

quero o cego & vago
momento inconsciente de vir ao mundo
e o afiado & exato
instante da lúcida certeza da morte


(FONSECA, José Augusto Ribeiro da. In: Estilhaços. Juiz de Fora/Rio de Janeiro. FUNALFA/Ibis Libris. 2011. p.22) 

NASCIMENTO

Turvas auroras, opacas manhãs, o ar seco estacionado no rosto fere a face cansada. As horas não passam no relógio invisível do tédio, as engrenagens do meu tempo continuam emperradas. Sem amor, o sol brilha inutilmente!

– Passo o dia a pino na estrada da solidão,
feito estátua grega jogada na tragédia da vida,
pedindo carona ao comboio do amor...

Uma caravana de lembranças desfila na minha frente, a palavra que não foi dita, o sutil gesto por fazer, os segredos que não foram entregues... o medo de amar é o que a vida menos suporta: só colhe rosas quem não tem medo de se machucar com os espinhos.

– A faca da solidão corta a noite ao meio,
uma metade amanhece, a outra fica dentro do peito.

Encontro mulheres perdidas, com medo de oferecer os seus tesouros, mulheres das horas escassas, dos momentos apressados, da conversa pronta, da alma não revelada, dos sonhos escondidos, dos desejos embargados. Poucos encontros e tantas despedidas. A nossa alegria não é somente de uma única madrugada.

– A descoberta do amor é a verdadeira forma de nascimento...
Mas o amor também é arame farpado: Cerca, fere e até enferruja!

Uma catedral de silêncio se instala na minha cabeça com os seus sinos surdos e seus altares de ídolos vazios, que me fazem pecar contra a vida. Calo-me na eternidade da noite, aflito, vago, incerto na insônia dos dias.

– Quero aprender a tatear o amor com olhos de criança e corpo de amante.

Busco novamente a sorte de ter uma mulher que desemperre o meu tempo, as coisas boas guardadas que eu tenho a dizer e os segredos que eu tenho para entregar.

– O amor é uma curva perigosa...
muda a direção, dá uma guinada,
lento ou veloz,
planta dentro do coração
da noite solitária,
múltiplos dias de sol.
Delicada tormenta,
tempestade e calmaria que
exila o vazio, cala o silêncio,
esquece a amargura, amansa a melancolia,
abraça o humor, amplia o sonho,
convoca a plenitude e autoriza a felicidade.
O amor desarruma a vida pra melhor.

(FONSECA, José Augusto Ribeiro da. In: Estilhaços. Juiz de Fora/Rio de Janeiro. FUNALFA/Ibis Libris. 2011. p.41)

sábado, 13 de dezembro de 2008

FRASE BOA DE SE LER

Não quero
os meus poemas
saindo das minhas
íntimas gavetas de silêncio,
para o fundo
dos sebos do esquecimento,
acumulando
o amarelo mal cheiroso
do tempo.
Se acaso
minhas palavras
tomarem corpo de livro,
que antes do fim,
elas possam fazer sentido
para alguém...
que de relance,
desapercebido,
folheando
palavras ao vento,
passe os olhos
pela descoberta
de alguma surpresa,
de uma bela imagem,
ou de uma

frase boa de se ler:
Não da boca pra fora,
e sim
da vida pra dentro...

(In Estilhaços, no prelo)





Van Gogh. Óleo sobre tela: Café Noturno, 1888.

A LUA ME CHAMA

Caminho sob a proteção prateada da lua
e a dos letreiros das casas noturnas.
A cidade desperta os seus bares
e outros agradáveis lugares.
Assobio uma antiga canção de amor.
O verão sopra o seu hálito
quente na minha cara,
abro um sorriso e parte da camisa.
Copulo com as festas da noite
até gerar a manhã.
Amanhã eu tiro o dia
para o culto da ressaca
e o esquecimento dos fatos,
ou o mal-estar de consciência.
Mas agora, o descompromisso
é o meu guia espiritual!
Jogo o tempo fora...
guardando a eternidade desses momentos,
nas olheiras de noites mal dormidas.
Se verdade houvesse, eu não a entenderia,
nessa hora da madrugada,
estou alheio a qualquer filosofia.
Só os sentidos conduzem
os meus rebanhos de pensamentos:
Ouço a minha música preferida;
danço no caos das sensações;
bebo o que for possível ao bolso
e a minha amizade com o dono do bar;
beijo uma mulher com uma paixão suicida;
e rio com os amigos,
de todas as besteiras sérias da vida.
E que a festa continue!
Porque a noite é uma criança,
a vadiagem é a mãe,
o desejo é o pai,
e eu faço parte da família...


(In: Estilhaços, no prelo)
Joan Miró. Óleo sobre tela: O Carnaval de Arlequim, 1924-1925.

INSTANTE NESCESSÁRIO

Sua imagem amanhece nos meus olhos.
Acordo com seu nome
gravado há séculos no meu sorriso
sei o que eu preciso!

Galáxias giram
indiferente a minha saudade:
Vago a sua procura
por todos descampados da cidade.

O tempo que ficou perdido...
a certeza que ficou esquecida...
o silêncio que ficou estampado...
a palavra que ficou calada...
o perdão que ficou guardado...

Minha esperança anda rápida pelas ruas.
Minha intuição ouve a sua voz.
Minha felicidade encontra o seu rosto.
Minha sinceridade expõe os sentimentos.
Minha vontade abraça o seu corpo.
Minha paixão beija a sua boca.

Se nesse instante eu morresse
morreria feliz
mas com você todo segundo
que me resta
é uma eternidade necessária.
Evard Munch. Óleo, têmpera e pastel sobre cartão: O Grito, 1893.

OLHO DO FURACÃO

Sou um cisco no mundo
no meio
do olho do furacão:


Rodo sem rumo
remo sem barco
abarco sem abraço
palavra e silêncio.

Abro minha
grande angular ao máximo
para captar
os fragmentos da vida.

A foto fica distorcida:
A imagem não revela a existência.
A certeza não gera a verdade.

A fuga não extravia a tristeza.
A madrugada não constrói a aurora.
A tempestade não precede a calmaria.

Giro na dança do caos
como cisco agarrado no mundo

que o dedo da morte
ainda não conseguiu tirar
e que vive sempre
no meio do olho do furacão...

SINAL DOS TEMPOS

Querem de volta
suas flores podadas.

A flor da idade
murcha no chão sujo.

Sonhos são surrupiados
pelo trabalho prematuro.

Vendem doces
nos sinais sempre fechados.

Pedintes em meio
a olhares envidraçados.

Usam
coca
cola
crack

ou outro refúgio na loucura
para agüentarem

tanto murro
em ponta de faca

afiada
na carne

no corte
no cruzamento

da barriga vazia
com a avenida cheia!


(In: Estilhaços, no prelo)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

BRINQUEDO PREDILETO

Ando com a tristeza de criança
que perdeu
o brinquedo predileto.

Um arrependimento do não feito,
uma vontade recolhida,

um gesto adormecido,
uma paixão exilada,
um grito engasgado,
uma ação paralisada,
um riso esquecido,

feito coisa que ficou para trás,
que não se esconde,
não se esquece,
muito pior...
Como coisa que nunca
fica para trás,
vem junto,
sempre atada ao corpo,
como prolongamento da carne
ou punhal cravado no peito!

Vivo com a lucidez
de quem foge,
me perco com a aflição
de quem procura.

O inominado...
O impalpável...
O que não se escreve...
O que não se diz...
O que não se cala...
O que não é vazio...
O que não é plenitude...

As horas amontoadas nos dias,
os dias amontoados nos meses,
os meses amontoados nos anos,
os anos amontoados nesses versos,
esses versos amontoados no poema,
tão inútil quanto o silêncio...

Ando com a tristeza de criança
que perdeu o brinquedo predileto.
Vista de Ouro Preto.

PEQUENO VISLUMBRE DE MINAS

Minas
Minérios
Mineiros...

Aqui, alma pesa mais
que metal e cruz de igreja!

Ruas, janelas, paredes e vielas,
espiam o passar dos séculos.

Labirintos obscuros: o barroco cravado no espaço,
caminhos do ouro, do diamante, do ferro e do aço.

A existência do homem talhada em pedra sabão.
O invisível em sua forma mineral, torna-se tangível.

O trem que não vem, a bitola atolada no nada,
a velha estação embarcando lembranças.

Pequenos povoados, recantos esquecidos,
a vida desacelera na velocidade da prosa de causos antigos.

Desilusões destiladas na cachaça,
o coração aperta, mas não estilhaça.

Nascentes, corredeiras, rios, cachoeiras,
tesouros d`água guardados pelas pedras dos vales.

As dobras e curvas de morros
e montanhas, nas entranhas do horizonte.

Paisagens, histórias, pessoas,
sentimentos, lembranças, vastidão.

Tímida e afiada imensidão
cravada dentro do peito.

Silêncio
Segredo
Sagrado...

Minas, o mistério desse
não dito, que nunca se cala!...

(In: Estilhaços, no prelo)

VELHICE

A

fuligem

do

tempo

na

folhagem

da

carne
Candido Portinari. Painel a óleo sobre tela: Retirantes, 1944.

RETIRANTES (CONTEMPLAÇÃO SOBRE QUADRO DE PORTINARI)

Retiram de si os sonhos de plantio. Espera sem fim, chuva não vem. Mais um poente, poeira, silêncio. Creio em Deus pai! A fé é o alimento restante! Calvário é o sertão, cova é a casa. Andar sem rumo, que aqui cheira a morte. A dor é dobrada quando a família chora baixo. O corpo é todo queda, em carne podre. Mulher segura a trouxa de roupa na cabeça e filho caindo no outro braço... (o da morte puxando). Menino de chapéu com dois irmãos mirando o nada, não larga do pai: é sombra da infância que não foi. A outra mulher, de olhar oco, é a própria criança querendo colo, só que... a fome não acolhe [ninguém. Um cajado, pau seco, escora o velho esfacelado pelo sol, só que... aurora não [há. Há osso, tripa, carniça, trapo, vazio. Retirantes não são mais que isso: pés descalços sobre terra morta, rastejando seus vestígios de vida, debaixo de um céu de urubus espiando... 
Auguste Rodin. Escultura em mármore: O Beijo, 1886.

MUITO MAIS COMPLICADO

saio por aí 

à procura da minha 

outra cara 

e eu não acho nem 

a metade 

de um paraíso 

que não se vê nesses inferninhos 

na noite 

barulhenta da cidade. 


quero muito mais que 

fêmeas efêmeras 

mais que a embriaguez

da madrugada 

que o prazer veloz da 

noite acabada. 


não é difícil sair 

por aí 

esbarrando em várias 

formas de 

amor e de amar: 


amor interessante 

amor interessado 

amor gratuito 

amor pago 

amor explícito 

amor velado


mas amar verdadeiramente 

é muito mais complicado!

(FONSECA, José Augusto Ribeiro da. Estilhaços. FUNALFA/Ibis Libris: Juiz de Fora/ Rio de Janeiro, 2011. p.29)

TR@NSITIVO

Sou um tr@nsitivo
do telegrama pro e-mail 
do orelhão pro celular,
do walkman pro mp3, 
do vinil pro CD,
do caderno pro PC. 

Sou um tr@nsitivo 
do passeio pro GPS, 
do lembrar pro HD,
do esquecer pro delete, 
do olho pro mega pixel,
do boteco pro chat. 

Nada disso me chateia 
tanto o quanto 
ser um tr@nsitivo 
do vivo pro morto.

(FONSECA, José Augusto Ribeiro da. Estilhaços. FUNALFA/Ibis Libris: Juiz de Fora/ Rio de Janeiro, 2011. p.28)